Seabra descrito como "calmo" antes e depois do crime
O Supremo Tribunal de Nova Iorque ouviu hoje, pelo segundo e último dia, uma testemunha chave para a acusação, Vanda Pires, que acompanhou Carlos Castro, seu amigo, e Seabra em vários passeios durante a estada de ambos em Nova Iorque, desde 29 de dezembro de 2010, e que viria a culminar no homicídio do Intercontinental Hotel, de 7 de janeiro de 2011.
Pressionada pelo advogado de defesa, David Touger, que alega insanidade do jovem no momento do crime, Pires disse que Renato Seabra estava "calmo, muito calmo", quando o encontrou no "lobby" do hotel e lhe disse que Castro não iria "descer mais do quarto".
Inicialmente Seabra parece "chocado" por ver Vanda Pires, como se fosse a "última pessoa que esperava ver" ao encaminhar-se para a porta do hotel, vestido de fato e gravata, disse a testemunha.
Durante a curta interação entre ambos, sobre o paradeiro de Castro, o olhar de Seabra era "normal, de uma pessoa normal".
Pires acorreu ao hotel depois de fazer dezenas de chamadas não atendidas para o telemóvel de Castro, que lhe tinha relatado, numa conversa na manhã de dia 7, que tinha passado a madrugada a discutir com Seabra, que o insultou, mas sem violência.
Castro "disse que [Seabra, durante a discussão,] mostrou-se uma pessoa diferente, com uma personalidade dupla, que já não era 'gay'", relatou Pires.
A acusação sustenta que foi "raiva, desilusão e frustração" a levar Renato Seabra a matar o colunista social, sentimentos que considera diretamente ligados ao fim da relação.
A defesa sustenta que foi uma doença mental a levar ao crime, após o qual o jovem passeou pelas ruas da cidade num estado de alucinação, tocando nas pessoas.
O tribunal ouviu também, esta manhã, a empregada de hotel que serviu o pequeno-almoço a Castro e Seabra várias vezes durante a estada, e também na manhã do dia do crime.
Enquanto nas primeiras vezes que serviu ambos, Castro mostrava-se "sorridente e conversador" e Seabra, "simpático, muito calmo, sem falar muito", na manhã do dia 7 de janeiro, havia "tensão" entre os dois, que se mantiveram em silêncio durante 25 minutos.
A acusação exibiu hoje, em toda a sua duração, o vídeo do pequeno-almoço, obtido da videovigilância do hotel, que mostra ambos a comer frente a frente, em interação.
No dia do crime, relatou a empregada Lauren Cohen-Fiszman, ambos estavam cabisbaixos, quietos, sem interagirem ou sequer falarem.
"Havia tensão, algo não estava igual", disse a testemunha, quando questionada pelo advogado de defesa.
Os jurados ouviram também a empregada que limpou o quarto que ambos partilhavam cerca das 13:00 do dia 7, e que terá sido a última pessoa a ver Carlos Castro em vida, junto à janela, a ver neve a cair nas ruas.
Hoje deverá ainda ser ouvido o taxista que, ao final da tarde do dia 7 de janeiro, e depois da interação com Vanda Pires, levou Seabra da Penn Station até ao Hospital Bellevue, onde foi tratado a cortes nos pulsos.
A procurador Maxine Rosenthal sustenta que o crime de Seabra "resultou de raiva, de cólera, de frustração e de desilusão, resultado direto do fim da relação com Castro".
A defesa escuda-se nos relatórios psiquiátricos que apontam problemas mentais a Seabra que, na altura do crime, "estava em pensamento delirante, num episódio maníaco e desordem bipolar com caraterísticas psicóticas graves".